Thursday, April 5, 2007

Melanie C | This Time

Data de lançamento: Abril 2007
Red Girl Records
* * *
Se há alguém que ainda salva a honra do convento Spice Girls, então esse alguém é Melanie C. Numa altura em que as suas ex-colegas estão mais ocupadas com rebentos ou com as últimas tendências da moda, a cantora de Liverpool regressa com um álbum visivelmente mais controlado e descontraído que os anteriores.

This Time, o quarto disco de originais de Melanie C, "ricocheta" entre o acústico (a doce What If I Stay e Don’t Let Me Go) e o pop (This Time e Protected), dando umas escassas cabeçadas no pop rock (Understand, cujo início mais parece um rip off do som dos Coldplay e Carolyna, assumidamente Red Hot Chilli Peppers). O ponto alto está em Your Mistake, onde Melanie atinge o melhor momento vocal, música acerca da separação dos seus pais. Desta vez, rodeou-se de produtores como Adam Argyle e Guy Chambers (essencialmente famoso pelos trabalhos com Robbie Williams) e canta, sobretudo, o amor e o desamor. I Want Candy (cover dos Strangeloves) e The Moment You Believe (First Day Of My Life apenas com outra letra) são as duas rampas de lançamento para este álbum. São as duas canções mais pensadas para o mercado comercial e, indiscutivelmente, as duas mais esquecíveis do conjunto.

O que parece é que Melanie C continua à deriva, no processo de encontrar uma sonoridade própria. Senão vejamos. Northern Star (1999), o seu maior ponto de inspiração, era cru e diversificado. Reason (2003) já foi bem cozinhado em demasiadas lamechices. Beautiful Intentions (2005) apostou no rock, mas todo o álbum parecia uma música apenas. À quarta tentativa, Melanie C é a rainha das baladas. A rapariga tem talento e já mostrou que sabe fazer mais do que saltar dentro de um fato-de-treino. This Time é consistente, mas ainda lhe falta audácia.

Sunday, April 1, 2007

Siobhan Donaghy | Ghosts

Data de Lançamento: Junho 2007
Parlophone
* * * *

Volta e meia, o brilho dá meia volta. O eterno síndroma do segundo disco continua a ser uma das tarefas mais difíceis de superar. Para Siobhan Donaghy, não. Depois de um enorme fracasso de vendas com o fantástico estreante Revolution In Me (2003), que lhe valeu a rescinsão com a London Records, mas que lhe valeu também um primeiro disco extremamente aclamado pelos críticos e meios de comunicação, a inglesa de 22 anos regressa com Ghosts.

Com uma mãozinha do produtor James Sanger (Dido, U2), Siobhan Donaghy traz um segundo disco que se distingue do primeiro pela fantasia e pelo enigmático. Se Revolution In Me já adivinhava essa tendência, de uma forma mais ou menos súbtil, Ghosts é a personificação desse mundo. 12 Acid Blues e Summertime mostram um pop extrovertido mas diferente. Em Medevac e Don’t Give It Up, Donaghy mostra que é o trip-hop que lhe assenta melhor. É claro que há espaço para a clássica balada dramática (Coming Up For Air), mas este disco é tudo menos um deja vu. Na faixa Ghosts ouvimos Donaghy a cantar apenas em backwords. Fórmula nada inovadora. O resultado, sim, é original.

Ghosts é experimental, épico e misterioso. E fantasmas assim são bem vindos. Vintage pop no seu melhor. Chegou a nova Kate Bush.

Balla | A Grande Mentira


Data de Lançamento: Novembro 2006
Chiado Records
* * * *

Armando Teixeira sabe o que faz. E esta Grande Mentira é mais um tiro certeiro. Ao terceiro disco dos Balla, continua a assumir a composição e produção, mas desta vez há uma novidade: Teixeira canta a totalidade das músicas, pela primeira vez.

Não é mentira nenhuma que A Grande Mentira é o disco menos esquizofrénico e mais contido do projecto. Mas é também verdade que isso não é totalmente mau. Os momentos mais interessantes encontram-se em Outro Futuro, Vou Fazer-te Brilhar ou Junk – curiosamente, os temas mais electro-dancáveis, e os que mais denotam uma sensação de improviso, especialmente na estrutura formal. Destaque, ainda, para Fugir? Ficar? ou O Choque, condimentados por um característico trip-pop, fórmula repetida nos antecessores Le Jeu (2003) e Balla (2000). O Fim da Luta é o single de avanço para este disco - um tema que é claramente o mais comercial do álbum, apesar de nunca cair na vulgaridade.

Pelo caminho de Armando Teixeira ficaram projectos como os Bizarra Locomotiva, Ik Mux ou Da Weasel. Na terceira aventura dos Balla, há uma preocupação estética e musical mais comercial (Teixeira já seguiu, aliás, a tendência actual e já tem o single a rodar numa telenovela portuguesa). Mas os Balla merecem um maior reconhecimento. E isso é uma grande verdade.